A bombeira Lilian Vilas
Boas, de Curitiba, foi punida com oito dias de prisão por ter feito um ensaio
fotográfico com parte dos seios à mostra.
A determinação dos superiores — ainda não cumprida porque Lilian
recorre na Justiça Militar — foi dada porque ela teria violado regulamentos do
Exército e da Polícia Militar (PM) do Paraná.
As imagens foram feitas em abril para o Projeto Velvet, que,
segundo o idealizador, busca a valorização feminina. “A ideia é fortalecer a
beleza natural da mulher e a liberdade de poder se mostrar”, diz o fotógrafo
Arnaldo Belotto.
Poucos dias após o ensaio ser publicado, as fotos circularam
pelo WhatsApp e chegaram a um grupo de agentes de segurança dos Jogos Olímpicos
do Rio. Lá o material foi visto por policiais que levaram o caso à corporação.
Belotto diz ter sido chamado duas vezes a depor. “Questionaram como tinha
acontecido, se ela tinha pago, se sabia que as fotos iam pro ar. Acabamos
expondo inclusive essa hipocrisia na questão dos mamilos: bombeiros homens
tiram fotos sem camisa e não são punidos”, diz Belotto.
O fotógrafo conta que outra participante, da Polícia Civil do
Paraná, também fez um ensaio para o site, e pediu a retirada das fotos dias
depois com medo da repercussão.
A nota de punição da bombeira, que tem 32 anos de idade e quase
três na corporação, foi assinada pela tenente Gisele Machado. De acordo
com a comandante do subgrupamento onde a soldado está lotada, Lilian infringiu
artigos do Regulamento de Ética da Polícia Militar, o Regime Disciplinar do
Exército e o Código da PM. Segundo a punição, ela transgrediu incisos do
regulamento da PM que falam em “nunca denegrir ou desgastar sua imagem”,
“proceder sempre de maneira ilibada na vida pública e particular” e “evitar
publicidade visando a própria promoção pessoal”.
Segundo a tenente Gisele Machado, embora as imagens não
façam qualquer alusão à Corporação, a militar teria cometido uma transgressão
considerada média. “No nosso regulamento, vai de transgressão leve a grave,
chegando a exclusão”, diz.
Procurados, a PM e o Corpo de Bombeiros informaram que “farão a
reavaliação [do caso] sob todas as óticas”, caso o recurso de Lilian chegue ao
comando, que não pode “emitir juízo de valor prévio” antes disso. A prisão foi
ordenada pelo 7° Grupamento de Bombeiros, que abrange 30 bairros da região
norte de Curitiba e 13 municípios da região metropolitana.
A soldado Lilian não tem concedido entrevistas. Já a União dos Praças do
Corpo de Bombeiros se manifestou a favor da militar, dizendo que houve equívoco
porque todo servidor dos bombeiros, mesmo militar, tem o direito constitucional
de se manifestar e que não houve exposição da Corporação.
A OAB Paraná também saiu em defesa da mulher e considera que a punição
reflete o machismo e as relações desiguais de gênero presentes em toda a
sociedade.
Condições para mulheres são alvo de críticas
Mulheres trabalham no Corpo de Bombeiros do Paraná há mais de uma década – a
primeira turma entrou em 2005 – e são mais de cem, mas ainda sofrem com falta
de estrutura exclusiva para elas, segundo agentes ouvidas pelo Metro
Jornal.
“Onde eu trabalho não tem nem vestiário, nem alojamento e nem banheiro
separado para mulher”, diz uma bombeira que trabalha na região metropolitana de
Curitiba. Segundo ela, as companheiras se submetem a situações de
constrangimento porque nem todos os quartéis têm dependências exclusivas.
No 1° Grupamento de Bombeiros, que atende a mais de 40 bairros da
capital, apenas dois dos seis quartéis, de acordo com a bombeira, têm
alojamentos femininos. Em outros locais, há casos em que as-bombeiras precisam
fazer “adaptações”. “Ela dormia na sala de TV, em um colchão no chão ou no
sofá, e quando ela precisava usar o banheiro e se trocar, pedia licença,
fechava a porta e usava o mesmo banheiro que os homens”, diz a agente sobre uma
colega do 1º GB.
Repórter: Edson Rios.
Extraído: http://paranaportal.uol.com.br
Informações :Com Rafael Neves e Daiane Andrade.